quarta-feira, 6 de maio de 2009

Acabei de ler um post muito interessante em E-AKO desafiando alguns lugares-comuns sobre m-learning. Nichtus, o autor, mais uma vez expressou suas ideias sobre educação formal e seus propósitos. Infelizmente, tive que concordar com algo que li. Especificamente, ele disse que é simplesmente boba a ideia de que estudantes possam desenvolver habilidades mais complexas como a análise crítica de informações, sem já possuírem uma boa dose dessas mesmas habilidades.

Se isso for verdade—e, infelizmente suspeito que sim—o cenário que vislumbramos é horrível considerando que muitíssimo poucas pessoas têm acesso a educação formal de boa qualidade no Brasil. Isso significa que a grande maioria das crianças e jovens do Brasil está fadada à incapacidade de pensar criticamente a ponto de realmente poder alterar a atual situação política/educacional? Mais especificamente, será que o uso de tecnologias usadas para a educação informal não seria uma opção barata e eficaz para começar a compensar pela educação formal à que tantos não têm acesso? Seria uma perda de tempo (e dinheiro)?

Como educadora, eu gostaria muito de acreditar que essas tecnologias pudessem ter um papel significativo na mudança desse cenário. Mas, talvez este seja apenas meu lado utópico falando... Será que eu vou ter que me tornar mais cética ainda? Quem vai me aguentar? ;)

5 comentários:

Renato disse...

Andamos atualizando a foto hein? ;-)

Fiquei curioso e li o outro artigo e entendo sua preocupação, mas acho que as tecnologias usadas nessa educação informal serão adaptadas à educação formal tornando-a sim, mais barata e mais rápida. Mas ainda temos muito a desenvolver, por exemplo como avaliar sem cair no subjetivismo dentro desses sistemas mais abertos é uma questão importante a ser resolvida.

Creio que a intenção do outro artigo foi deixar claro que a educação formal não pode ser descartada.

Anamaria Camargo disse...

Você é observador, hein? ;)

Você está certo quanto à necessidade de sistemas confiáveis e adequados para aprendizagem através de ferramentas tão informais quanto um blog ou wiki. Sem isto, jamais poderemos saber ao certo se funcionam ou não. No entanto, algumas pesquisas sobre esse tema já foram feitas. No livro The Dumbest Generation (2008), Bauerlein cita várias delas tentando demonstrar que o crescente uso de ferramentas web 2.0 não apenas não tornou os jovens mais hábeis em uma série de aspectos, inclusive no uso inteligente das TICs, como deixou-os mais burros. A tese dele é bem polêmica; muitos o contradizem, mas ele traz números pra provar o que diz. Por exemplo: o ETS (órgão norte-americano que faz o SAT) testou 6300 alunos em sua habilidade de determinar a objetividade de websites, identificar fontes confiáveis, selecionar informação relevante e transmitir essas informações de forma clara e útil. Resultado: apenas 52% julgaram corretamente a objetividade dos websites testados. Quando se pediu que produzissem um slide com os pontos relevantes para que pudessem persuadir pessoas sobre argumentos presentes no texto, 8% escolheram pontos totalmente irrelevantes e 80% misturaram argumentos relevantes e irrelevantes. Muitas e muitas outras pesquisas de grande escala são citadas no livro, o que me deixa bastante cética quanto à minha idéia inicial de usar blogs para desenvolver leitura crítica em jovens brasileiros. Nas palavras de Bauerlein: “Students can imgae and browse and post and play, b ut they can’t judge the materials they process, at least not in the intellectual or professional terms of college classes and the workplace.” (p. 115)

Renato disse...

Sim, sim... vc ficou com um simpático "quê" de irlandês. ;-)

Hmm, bom argumento. Me pergunto então se não estamos é superestimando o impacto das tecnologias. Talvez elas em si não tenham impacto sobre o desenvolvimento da capacidade crítica. Mas será que elas estão sendo usadas com foco em desenvolver essa capacidade? Em situações de aprendizagem informal suponho que não estejam mesmo.

Devo admitir que eu mesmo não consegui ver soluções eficientes. Fui tutor na UAB e em uma matéria um dos trabalhos foi justamente desenvolver um blog, onde os alunos desenvolveriam seus trabalhos e refletiriam sobre eles. Realmente os resultados não foram muito animadores. Quem não tinha muito "conteúdo" realmente continuava sem ter o que dizer e os blogs ficavam vazios. Entre o início e o fim do curso eu não vi melhora na maioria. Quem já tinha pensamento crítico continuou com ele, mas vi pouco desenvolvimento em quem não tinha.

Anamaria Camargo disse...

Acho que é isso mesmo, Renato. Por ignorância e ingenuidade andei superestimando o potencial dessas ferramentas.

Por acaso, encontrei um artigo descrevendo uma pesquisa sobre a implementação de blogs em um curso de mestrado. Ele sugere um modelo que talvez te interesse e explique porque sua experiência não foi tão bem sucedida. Dê uma olhada no meu post mais novo que tem um link pra essa pesquisa.

Para você que learning designer, achei uma parte bem importante: “students only make good use of a media/tool or engage in any learning activity if these are well embedded in learning design” (p. 32)

Renato disse...

Oi Anamaria, todos nós podemos sofrer de wishfull thinking de vez em quando.

Vou dar uma olhada no próximo post, valeu a indicação. O design realmente é importante, mas pelo que li os game designers estão mandando melhor que nós.

http://blog.joaomattar.com/2009/01/24/digital-game-based-learning/