segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tenho lido um pouco sobre ‘(digital) media literacy’ – tradução para o português será muito bem-vinda – e seu impacto sobre a formação de uma sociedade participativa. Interessa-me particularmente investigar o papel que a educação (incluíndo o e-learning) deve desempenhar nesse processo. Alguns dizem que os jovens se tornarão naturalmente “digitalmente alfabetizados” à medida em que interajam com a cultura digital. Outros, no entanto, afirmam que intervenções pedagógicas são necessárias para que o acesso a oportunidades de expressão através de novas mídias seja facilitado para todos, para que haja um claro entendimento sobre como as mídias formam nossas percepções e para que ocorra uma verdadeira preparação que torne os jovens prontos para atuar como criadores de mídias, e não apenas meros consumidores delas.

Tendo a concordar com esses últimos. Recentemente, fiz uma investigação informal através de uma entrevista com jovens de 15 a 19 anos sobre seus hábitos de uso da Internet. Entre outras coisas, descobri sem nenhuma surpresa, que apesar de terem acesso fácil a Internet, a grande maioria deles passa 100% do seu tempo online envolvidos em uma ou todas dessas 3 atividades: email/IM, chat e sites de relacionamento. Estou falando de jovens da classe média-alta, alunos de escolas particulares, cujos pais, em sua maioria, concluíram um curso universitário.

Não estou dizendo aqui que essas atividades não contribuem para o desenvolvimento de (algumas) habilidades necessárias a essa “alfabetização digital”, mas fico aqui imaginando quanto de pensamento crítico, reflexivo e criativo é necessário para atualizar um perfil no Orkut ou pra descobrir sobre o último “ficante” da melhor amiga. Não quero também parecer antiquada, até porque acho que os jovens devem sim se envolver nessas atividades (embora com menos intensidade). O que eu estou questionando aqui, como disse acima, e o que verdadeiramente me interessa é o papel da educação no processo de desenvolvimento de habilidades necessárias ao jovem ‘media literate’. Como, aparentemente, a maioria dessas habilidades não são necessárias nas atividades online em que os jovens se envolvem, como pode o e-learning ajudar a transformar o futuro deles para que se tornem cidadãos críticos, criativos e participativos? Esta não é uma pergunta retórica; gostaria muito da opinião de outras pessoas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ana.
Seus questionamentos muito oportunos, me fazem vir em mente uma série de perguntas, típicas de um leigo no assunto.
A primeira diz respeito em até que ponto a educação totalmente digital , poderia favorecer , ou não , a uma observação mais atenta , por parte do professor , do comportamento do aluno (?).
Outra...
A criação do aluno "solitário",em frente a telinha ,favorece ou diminui seu aprendizado a medida que não tem interação física e direta com outros alunos?
Isso evitaria , definitivamente , problemas como o do nefasto "bulling" ?
E como seria "casar" os dois métodos de ensino , o tradicional e o seu , em um projeto social com base nos CIEP's de Darci Ribeiro, para a educação de crianças carentes em todo o estado da Bahia.
Não esqueça que eu tenho um sonho(rs)...
Um grande abraço.

Anamaria Camargo disse...

Oi, Jean.

Eu vejo a educação totalmente digital como uma opção pedagogicamente viável para adultos apenas. Um professor tecnicamente preparado poderá sim observar o comportamento dos alunos ainda que nã conte com o não verbal. Isso não evitaria por si só o bullying, já que existe o cyberbullying a atormentar muitos por aí.

O aluno em frente a telinha não é necessariamente solitário, desde que haja interação real e inteligente com ele. O que garante que um aluno que esteja fisicamente presente com outros 40 não esteja muito mais solitário e incapaz de interagir?

Existem várias maneiras de integrar elearning e ensino presencial que podem funcionar muito bem desde que atendidos certos pré-requisitos como professores bem preparados, currículo adequado às necessidades dos alunos, infra-estrutura técnica, suporte pedagógico e técnico, acesso a equipamento adequado, etc, etc.

Você sugere algo na linha dos CIEPs. Pode ser, mas, nesse caso ficaríamos à mercê de governos ou ONGs nem sempre confiáveis... Será que dá pra pensar em algo fora do escopo da escola formal?...